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São Bernardo de Claraval e a fundação da Ordem dos Templários

Written By Beraká - o blog da família on terça-feira, 20 de setembro de 2016 | 17:12







O Início da Ordem do Templo


(Tradução de matéria extraída de: http://www.osmtj.org/Secciones/Historia/orden.htm)


O início da Ordem do Templo é incerto e não nos chegou suficiente documentação para determinar com exatidão quando foi fundada a Ordem, como e quais são todos os seus fundadores.É desconhecida a identidade de todos os cavaleiros que deram início à Ordem dos Templários, embora entre seus fundadores se mencione Hugo de Paganis (figura associada pela historiografia oficial a um nobre da Casa dos Condes de Champanha, chamado Hugo de Payns), assim como o flamengo Godofridus de Sancto Audemaro (conhecido por Godofredo de San Omer, da família dos Castellans de San Omer em Flandres), Godofredo Bisol, Payen de Montdidier, Rossal e Archibaldo de Saint-Amand. Uma carta do Rei Balduíno nos permite conhecer outros dois cavaleiros cujos nomes são André e Gondemaro.




Em torno de 1.118 se reuniram em Jerusalém para se consagrarem a serviço de Deus, como canônicos juramentados, seguindo a regra de Santo Agostinho e fazendo ante o Patriarca Gormondo os três votos comuns de obediência, pobreza e castidade, mais um quarto voto de defender e preservar os Santos Lugares, assim como proteger os peregrinos. O rei Balduíno II lhes cedeu a ala de seu palácio situado na antiga mesquita de Al-Aqsa, no Monte do Templo, daí seu nome posterior, templários.



Não se sabe de quem partiu a idéia de organizar uma força armada para a proteção e defesa dos peregrinos que chegavam à Terra Santa. No caso de que Hugo de Paganis fosse como se disse Hugo de Payns, cabe pensar que chegara à Terra Santa no ano de 1.114 em companhia do Conde de champanha. A ser assim, a idéia de criar a Ordem do Templo teria partido diretamente dele, testemunho das vexações e crimes que tinham que sofrer os peregrinos, ou melhor do próprio conde de Champanha, que não teria podido encabeçar pessoalmente a fundação e aprovação da Ordem por ter que regressar à Europa por pedido de sua esposa. Diz-se também que a iniciativa partiu de do rei Baluíno, do Patriarca de Jerusalém, de alguns dos companheiros de Hugo de Paganis, ou do jovem abade cisterciense São Bernardo de Claraval.



Muito se tem especulado sobre as atividades que teriam desenvolvido os primeiros templários de 1118 a 1127. O certo é que durante esses nove anos os freires templários conservaram o hábito secular, mas muito pouco se sabe do que fizeram nas ruínas do Templo de Salomão e de suas atividades de proteção aos peregrinos na Terra Santa.Quando finalmente os cavaleiros pediram a regra, o patriarca Esteban de la Fierte pediu ao papa Honório II que se lha concedesse. Este deu a responsabilidade do importante assunto a Bernardo, abade de Claraval, sobrinho do templário fundador, André de Montbard.



Foi Godofredo de de San Omer quem junto com outros cavaleiros templários acompanhou em 1128 Hugo de Paganis, eleito primeiro Mestre da comunidade nascente, e ao patriarca de Jerusalém ao concílio de Troyes, onde a Ordem do Templo receberia A Regra.A partir desse momento começaram a receber incontáveis doações e petições de ingresso de novos irmãos na Ordem. Isso levaria a que, em poucos anos, aqueles pobres Soldados de Cristo, que iniciaram sua história residindo nas ruínas do Templo de Salomão, fossem se convertendo paulatinamente na ordem militar mais poderosa, rica e influente da Idade Média.







A Regra Primitiva dos Templários


(Trad. Monserrat Robrenyo, Barcelona, 2000. Trad. Mrs. Judith Upton-Ward - Reimpressa com a amável permissão do autor)



Esta tradução do original, ou primitiva, Regra dos Templários está baseada na edição de 1886 de Henri de Curzon, A Regra do Templo como Manual Militar, ou Como Desempenhar um Posto de Cavalaria. Representa a Regra dada aos recém originados Cavaleiros do Templo pelo Concílio de Troyes, 1129, embora "não se deva esquecer que a Ordem já existia durante vários anos e desenvolvido suas próprias tradições e costumes antes da aparição de Hugues de Payens no Concílio de Troyes. Portanto, até certo ponto, a Regra Primitiva é baseada em práticas já existentes".(Upton-Ward, p.11)Esta tradução é cópia da "A Regra dos Templários" de Judith Upton-Ward, Woodbridge: The Boydell Press, 1992, e foi reeditada com sua permissão. A Regra dos Templários inclui uma introdução de Upton-Ward; também a Regra dos Templários Primitiva e seus estatutos hierárquicos, castigos sobre normas de conduta, vida conventual, capítulos ordinários, admissão na Ordem e um apêndice por Matthew Bennett, "A Regra do Templo como um Manual Militar, ou Como desempenhar um Posto de Cavalaria".



O livro é extremamente recomendável para aqueles interessados nos Templários ou em qualquer ordem militar. Agora também em formato econômico.As notas para a Regra Primitiva, facilitada por Mrs. Upton-Ward na Regra dos Templários, não se incluem neste texto. São de considerável interesse e deveriam ser consultadas por aqueles que desejam estudar a Regra com mais detalhe.


Nota do tradutor para o Português:Toda a matéria relativa à Regra Primitiva dos Templários, inclusive a que antecede a presente Nota, foi extraída do texto original em Espanhol constante do site www.osmtj.org - Espanha.




A Regra Primitiva



Aqui começa o prólogo à Regra do Templo


1. Dirigimo-nos, em primeiro lugar, a todos aqueles que com discernimento rechaçam sua própria vontade e desejam de todo o coração servir a seu rei soberano como cavaleiro; levar com supremo afã, e permanentemente, a mui nobre armadura da obediência. E, portanto, nós os convidamos a seguir os escolhidos por Deus entre a massa perdida aos quais propiciou, em virtude de sua sutil misericórdia, defender a Santa Igreja, e que vós ansiais abraçar para sempre.

2. Sobre todas as coisas, quem quer ser um cavaleiro de Cristo escolhendo essas sagradas ordens em sua profissão de fé, deve unir simples diligência e firme perseverança, que é tão valiosa e sagrada e se revela tão nobre, que se se mantém impoluta para sempre, merecerá acompanhar os mártires que deram suas almas por Cristo Jesus. Nesta ordem religiosa floresceu e se revitaliza a ordem de cavalaria. A cavalaria, apesar do amor pela justiça que constitui seu dever, não cumpriu com seus deveres para com os pobres, viúvas, órfãos e igrejas defendendo-os, antes se aparelharam para destruir, despojar e matar. Deus, que atua conforme para conosco, e nosso salvador Cristo Jesus, enviou seus seguidores, desde a cidade Santa de Jerusalém aos quartéis da França e Borgonha, para nossa salvação e exemplo da verdadeira fé, pois não cessam de oferecer suas vidas por Deus em piedoso sacrifício.


3. Ante isso nós, em deleite e irmanados, por requerimento do Mestre Hugues de Payens, por quem a mencionada ordem de cavalaria foi fundada com a graça do Espírito Santo, nos reunimos em Troyes, dentre as provícias mais além das montanhas, na festa de São Hilário, no ano da encarnação de Cristo Jesus de 1128, no nono ano após a fundação da anteriormente mencionada ordem de cavalaria. Da conduta nos princípios da Ordem de Cavalaria escutamos em capítulo comum dos lábios do anteriormente citado Mestre, Irmão Hugues de Payens, e de acordo com as limitações de nosso entendimento, o que nos pareceu correto e benéfico elogiamos, e o que nos pareceu errôneo rechaçamos.

4. E tudo o que aconteceu naquele Conselho não pode ser contado nem recontado e para que não seja tomado por precipitação nossa, senão considerado com sábia prudência, desejamos a discrição de ambos, nosso honorável padre o Senhor Honório e do nobre Patriarca de Jerusalém, Esteban, que conhece os problemas do Leste e dos Pobres Cavaleiros de Cristo; por conselho do concilio comum o aprovamos unanimemente. Embora um grande número de padres religiosos reunidos em capítulo aprovou a veracidade de nossas palavras, não obstante não devemos silenciar os verdadeiros pronunciamentos e juízos que emitiram.

5. Portanto, eu, Jean Michel, a quem foi encomendado e confiado tão divino serviço, pela graça de Deus, serví de humilde escriba do presente documento por ordem do conselho e do venerável padre Bernardo, abade de Clairvaux.

O nome dos Padres que compareceram ao Concílio

6. Primeiro foi Mateo, bispo de Albano, pela graça de Deus, legado da Santa Igreja de Roma; R[enaud], arcebispo de Reims; H[enri}, arcebispo de Sens; e seus clérigos: G[ocelin], bispo de Soissons; o bispo de Paris; o bispo de Troyes; o bispo de Orlèans; o bispo de Auxerre; o bispo de Meaux; o bispo de Chalons; o bispo de Laon; o bispo de Beauvais; o abade de Vèzelay, que posteriormente foi arcebispo de Lyon e legado da Igreja de Roma; o abade Citeaux; o abade de Pontigny; o abade de Trois-Fontaines; o abade de St. Denis de Reims; o abade de St-Etienne de Dijon; o abade de Molesmes; ao anteriormente mencionado B[ernard], abade de Clairvaux: cujas palavras o anteriormente citado elogiou abertamente. Também estiveram presentes o mestre Aubri de Reims; mestre Fulcher e vários outros que seria tedioso mencionar. E dos outros que não se mencionaram, é importante assentar, neste assunto, de que são amantes da verdade: eles são o conde Theobald; o conde de Nevers; Andrè de Baudemant. Estiveram no concílio e atuaram com perfeito e cuidadoso estudo selecionando o correto e descartando o que não lhes parecia justo.

7. E também estava presente o Irmão Hugues de Payens, Mestre de Cavalaria, com alguns dos irmãos que o acompanharam. Estes eram Irmão Roland, Irmão Godefroy, e Irmão Geoffroi Bisot, Irmão Payens de Montdidier, Irmão Archambaut de Saint-Amand. O próprio Mestre Hugues com seus seguidores anteriormente citados, expuseram os costumes e observâncias de seus humildes começos e um deles disse: 'Ego principium qui est loquor vobis', que significa "Eu que falo a vós sou o princípio" segundo minha lembrança pessoal.

8. Agradou ao concílio ordinário que as deliberações e o estudo das Sagradas Escrituras, que se examinaram profundamente com a sabedoria de meu senhor H[onorius], papa da Santa Igreja de Roma, e do Patriarca de Jerusalém, se fizessem ali em conformidade com o capítulo. Juntos, e de acordo com os Pobres Cavaleiros de Cristo do Templo que está em Jerusalém, deve-se pôr por escrito e não esquecido, zelosamente guardado, de tal forma que para uma vida de observância possam se referir a seu criador como mais doce que mel e em conformidade com Deus, cuja piedade parece óleo e nos permite ir a Ele a quem desejamos servir 'Per infinita saecula saeculorum.Amen'.

Aqui começa a Regra dos Pobres Cavaleiros do Templo

9. Vós, os que renunciais à vossa vontade, e vós, os outros, os que servís a um rei soberano com cavalos e armas para salvação de vossas almas e por tempo estabelecido, atendereis com desejo virtuoso ao ouvir as matinas e ao serviço completo, segundo a lei canônica e aos costumes dos mestres da Cidade Santa de Jerusalém. Oh vós, veneráveis irmãos, que Deus esteja convosco, se prometeis desprezar o mundo por perpétuo amor a Deus, desterrar as tentações de vosso corpo, sustentado pelos alimentos de Deus, beber e ser instruído nos mandamentos de Nosso Senhor, ao final do ofício divino nenhum deve temer entrar em batalha se, por fim, usais a tonsura.


10. Mas se qualquer irmão for enviado para o trabalho da casa e pela Cristandade no Leste - algo que cremos ocorrerá frequentemente - e não puder ouvir o divino ofício, deverá dizer em lugar das matinas treze pai-nossos; sete por hora e nove às vésperas. E todos juntos ordenamos que assim o faça. Mas aqueles que foram enviados e não puderem voltar para assistir ao divino ofício, se lhes for possível às horas estabelecidas, que não deverão ser omitidas, render a Deus sua homenagem.

A Forma em que devem ser recebidos os Irmãos

11. Se qualquer cavaleiro secular, ou qualquer outro homem, deseja deixar a massa de perdição e abandonar a vida secular escolhendo a vossa comunidade, não consintais em recebê-lo imediatamente, porque segundo disse meu Senhor São Paulo: 'Probate spiritus si ex Deo sunt'. Que quer dizer: "Prove-lhe a alma para ver se vem de Deus". Sem embargo, se a companhia de seus irmãos lhe deve ser concedida, deixai que a ele seja lida a Regra, e se deseja explicitamente obedecer os mandamentos da Regra, e compraz tanto ao Mestre quanto aos irmãos o receber-lhe, deixai-o revelar seu desejo perante todos os irmãos reunidos em capítulo e fazer sua solicitação com coração digno.

Sobre Cavaleiros excomungados

12. Onde saibais que se concentram cavaleiros excomungados, aí os obrigamos a ir; e se alguém deseja se unir à ordem de cavalaria proveniente de regiões distantes, não devereis considerar tanto o valor terrenal como o valor da eterna salvação de sua alma. Nós ordenamos que seja recebido condicionalmente, que se apresente perante o bispo da província e o comunique de sua intenção. E, quando o bispo o houver escutado e absolvido, o enviará ao Mestre e irmãos do Templo, e se sua vida for honesta e merecedora de sua companhia, se parece justo ao Mestre e irmãos, deixai que seja piedosamente recebido; e se morrer durante esse tempo, pela angústia e tormento que sofreu, deixai que se lhe outorguem todos os favores da irmandade, dados a cada um dos Pobres Cavaleiros do Templo.

13. Sob nenhuma outra circunstância deverão os irmãos do Templo compartilhar da companhia dos indiscutivelmente excomungados, nem que se fiquem com seus pertences; e isso deve ser encarecidamente proibido porque seria terrível que fossem assim mesmo repudiados. Mas, se só lhe foi proibido escutar o Divino Ofício, é certamente possível permanecer em sua companhia, assim como ficar com seus pertences, entregando-os à caridade com a permissão de seu comandante.

Sobre não aceitar meninos

14. Embora a regra dos santos padres permita receber meninos na vida religiosa, nós o desaconselhamos. Porque aquele que deseje entregar seu filho eternamente na ordem de cavalaria deverá educá-lo até que seja capaz de usar as armas com vigor e liberar a terra dos inimigos de Cristo Jesus. Então, que sua mãe e pai o levem à casa e que sua petição seja conhecida pelos irmãos; e é muito melhor que não tome os votos quando menino, senão ao ser maior, pois é conveniente que não se arrependa disso, do que o faça. E em seguida que seja posto à prova de acordo com a sabedoria do Mestre e irmãos, conforme a honestidade de sua vida ao solicitar ser admitido na irmandade.

Sobre os que estão demasiado tempo de pé na Capela

15. Foi-nos feito saber, e o escutamos de testemunhas presenciais, que de forma imoderada e sem restrição alguma, vós escutais o divino ofício de pé. Nós não ordenamos que comportais dessa forma, ao contrário o desaprovamos. Dispomos que, tanto os fortes quanto os debilitados, para evitar desordens, cantem o salmo chamado Venite com a invitatória e o hino sentados, e digam suas orações em silêncio, em voz baixa não vociferando, para não perturbar as orações dos outros irmãos.

16. Mas ao final dos salmos, quando se canta o 'Gloria Patri' em reverência à Santíssima Trindade, vos poreis de pé e vos inclinareis frente ao altar, enquanto os debilitados ou enfermos só inclinarão a cabeça. Portanto, mandamos que, quando a explicação dos Evangelhos seja lida, e se cante o 'Te Deum laudamus', e enquanto se cantem os louvores, e as matinas terminam, vós estejais de pé. Desta mesma forma determinamos que permaneceis de pé durante as matinas e em todas as horas de Nossa Senhora.

Sobre a vestimenta dos Irmãos

17. Dispomos que todos os hábitos dos irmãos sejam de uma só cor, quer seja branco, negro ou marrom. E sugerimos que tanto no inverno como no verão, se for possível, usem capas brancas; e a ninguém que não pertença à mencionada cavalaria de Cristo lhe será permitido ter uma capa branca para que aqueles que hajam abandonado a vida em obscuridade se reconheçam uns aos outros como seres reconciliados com seu criador pelo símbolo de seus hábitos brancos: que significa pureza e completa castidade. A Castidade é certeza no coração e saúde no corpo. Porque se um irmão não toma votos de castidade não pode aceder ao eterno descanso nem ver a Deus, pela promessa do apóstolo que disse: 'sectamini cum omnibus et castimoniam sine qua nemo Deum videbit'. Que significa: "Luta para levar a paz a todos, mantem-te casto, sem o qual ninguém pode ver a Deus".

18. Mas essas vestimentas deverão se manter sem riquezas e sem nenhum símbolo de orgulho. E assim, nós exigimos que nenhum irmão use pele em suas vestimentas, nem qualquer outra coisa que não pertença ao uso do corpo, nem tão sequer uma manta que não seja de lã or cordeiro. Concordamos em que todos tenham o mesmo, de tal forma que possam se vestir e se despir, e por e tirar as botas com facilidade. E o alfaiate, ou quem faça suas funções, deverá se mostrar minucioso e cuidar que se mantenha a aprovação de Deus em todas as coisas mencionadas, para que os olhos dos invejosos e mal intencionados não possam observar que as vestimentas sejam demasiado compridas ou curtas; deverá distribuí-las de tal maneira que sejam da medida de quem as há de usar, segundo a corpulência de cada um.

19. E se algum por orgulho ou arrogância deseja ter para ele um melhor e mais fino hábito, dái-lhe o pior. E aqueles que recebam vestimentas novas deverão imediatamente devolver as velhas para que sejam entregues a escudeiros e sargentos, e com frequencia aos pobres, segundo o que considere conveniente o encarregado desse mister.

Sobre as Camisas

20. Entre outros assuntos sobre os que regulamos, devido ao intenso calor existente no Leste, desde a Páscoa até Todos os Santos, graças à compaixão e de nenhuma forma como de direito, uma camisa de linho será entregue ao irmão que assim o solicite.

Sobre a Roupa de Cama

21. Ordenamos por unanimidade que cada homem tenha a roupa e lençóis de acordo com o juízo de seu Mestre. É nosso propósito que um colchão, um almofadão e uma colcha são suficientes para cada um; e àquele que lhe falte um desses pode usar uma coberta e uma colcha de linho que seja sempre de fio fino, e dormirão sempre vestidos com camisa e calça, sapatos e cinturões, e onde repousem deverá sempre haver uma luz acesa até a manhã. E o Alfaiate se assegurará que os irmãos estejam tão bem tonsurados que possam ser examinados tanto de frente como de costas; e nós ordenamos que vós adirais a essa mesma conduta no tocante a barbas e bigodes para que nenhum excesso se mostre em seus corpos.

Sobre Sapatos pontiagudos e Cadarços

22. proibimos os sapatos pontiagudos e os cadarços e condenamos que um irmão os usem; nem os permitimos àqueles que servem na casa por tempo determinado; melhor, proibimos que os usem em qualquer circunstância. Porque é manifesto e bem sabido que essas coisas abomináveis pertencem aos pagãos. Também não deverão usar nem o cabelo nem o hábito demasiado compridos. Porque aqueles que servem ao soberano Criador devem surgir da necessidade dentro e fora mediante a promessa do próprio Deus que disse: 'Estote mundi quia ego mundus sum'. Que quer dizer: "Nasça como eu nasço".

Como devem comer

23. No palácio, ou o que deveria se chamar refeitório, devereis comer juntos. Porém, se estais necessitado de algo, pois não estais acostumados aos utilizados pelos religiosos, em voz baixa e em particular devereis pedir o que necessitais na mesa com toda a humildade e submissão. Porque o Apósotolo disse: 'Manduca panem tuo cum silentio'. Que significa: "Come teu pão em silêncio". E o Salmista: 'Posui ore meo custodiam'. Que quer dizer: "Eu reprimi minha língua". Que significa que "Eu creio que minha língua me trairia" o que vem a ser "Calei para não falar mal".Sobre a Leitura da Lição 24. Sempre, durante a refeição e ceia no convento, que se leiam as Sagradas Escituras, se isso for possível. Se amamos a Deus, suas Santas palavras e seus Santos Mandamentos desejaremos escutar atentamente; e o leitor do texto exigirá silêncio antes de começar a ler.

Sobre Recipientes e Cálices

25. Devido à escassez de recipientes os irmãos comerão aos pares, de tal forma que um possa observar de mais perto o outro para que nem a austeridade nem a abstinência em segredo sejam introduzidas na refeição da comunidade. E nos parece justo que cada irmão tenha a mesma quantidade de vinho em sua taça.

Sobre comer Carne

26. Deverá ser suficiente comer carne três vezes por semana, exceto no Natal, Todos os Santos, Assunção e na festividade dos doze apóstolos. Porque se entende que o costume de comer carne corrompe o corpo. Porém, se num jejum em que se deve suprimir a carne cair numa terça-feira, no dia seguinte será dada uma grande porção aos irmãos. E nos Domingos todos os irmãos do Templo, os capelães e clérigos receberão dois ágapes de carne em honra à santa ressurreição de Cristo Jesus. E os demais da casa, que inclui os escudeiros e sargentos, deverão se contentar com uma refeição e ser agradecidos ao Senhor por ela.

Sobre as refeições durante a Semana 27. Sobre os outros dias da semana, que são segunda-feira, quarta-feira e inclusive Sábados, os irmãos tenham duas ou três refeições de vegetais ou outros pratos comidos com pão; e nós cremos que seja suficiente e ordenamos que assim seja, de tal maneira que aquele que não comer em uma refeição o faça na outra.

Sobre a refeição de Sexta-feira

28. Às Sextas-feiras, que se ofereça à toda a congregação refeição quaresmal, oriunda da reverência pela paixão de Cristo Jesus; e fareis abstinência desde a festividade de Todos os Santos até a Páscoa, exceto no dia de Natal, da Assunção e da festividade dos doze apóstolos. Porém, os irmãos debilitados ou enfermos não deverão ser obrigados a isso. Desde a Páscoa até a festa de Todos os Santos podem comer duas vezes, conquanto não seja abstinência geral.

Sobre dar Graças

29. Sempre depois de cada refeição ou ceia todos os irmãos deverão dar graças a Deus na igreja e em silêncio se essa se encontra no lugar onde fazem a refeição, e se não estiver no mesmo lugar onde hajam tomado a refeição, com humildade deverão dar graças a Cristo Jesus, que é o Senhor que Provê. Deixai que os pedaços de pão rompido sejam dados aos pobres, e os que estejam em rodelas inteiras sejam guardados. Embora a recompensa dos pobres seja o reino dos céus, se oferecerá aos pobres sem qualquer dúvida, e a fé Cristã os reconhecerá entre os seus; portanto, concordemos que uma décima parte do pão seja entregue a vosso Esmoleiro.

Sobre a Merenda

30. Quando cai o sol e começa a noite escutais o sinal do sino ou a chamada à oração, segundo os costumes do país, e acudís todos ao capítulo. Porém, dispomos que primeiro merendeis, se bem que deixamos a tomada desse refrigério ao arbítrio e discrição do Mestre. Quando quiserdes água ou ordenais, por caridade, vinho aguado, que se lhes dê com comedimento. Certamente, não deverá ser em excesso, senão com moderação. Porque Salomão disse: 'Quia vinunfacit apostatare sapientes'. Que quer dizer: "que o vinho corrompe os sábios".

Sobre se manter em Silêncio

31. Quando os irmãos saírem do capítulo não devem falar abertamente, exceto em uma emergência. Deixai que cada um vá para sua cama tranquilo e em silêncio, e se necessita falar a seu escudeiro, deverá dizer em voz baixa. Mas, se por casualidade, à saída do capítulo, a cavalaria ou a casa tem um sério problema que deve ser resolvido antes da manhã, entendemos que o Mestre ou o grupo de irmãos maiores que governam a Ordem pelo Mestre, podem falar apropriadamente. E por esta razão obrigamos que seja feita desta maneira.

32. Porque está escrito: 'In multiloquio non effugies peccatum'. Que quer dizer: "O falar em demasia não está livre de pecado". E em algum outro lugar: 'Mors et vita in manibus lingue'. Que significa: "A vida e a morte estão sob o poder da língua". E dentro desse entendimento nós conjuntamente proibimos palavras vãs e ataques estrondosos de riso. E se algo se disse durante essa conversa que não deveria ter sido dito, ordenamos que ao recostar-vos rezeis um pai-nosso com bastante humildade e sincera devoção.

Sobre os Irmãos Convalescentes

33. Os irmãos que, devido aos trabalhos da casa, padeçam de enfermidade, podem se levantar às matinas com o consentimento e permissão do Mestre ou daqueles que se encarreguem desse mister. Deverão dizer em lugar das matinas treze pai-nossos, assim fica estabelecido, de tal forma e maneira que suas palavras reflitam seu coração. Assim o disse David: 'Psallite sapienter'. Que significa: "Canta com sabedoria". E igualmente disse David: 'In conspectu Angelorum psallam tibi'. Que significa: "Eu cantarei para ti ante os anjos". E deixai que isso seja sempre assim e à discrição do Mestre ou daqueles encarregados de tal mister.

Sobre a Vida em Comunidade

34. Lemos nas Sagradas Escrituras: 'Dividebatur singulis prout cuique opus erat'. Que significa: "A cada um lhe será dado segundo sua necessidade". Por essa razão nós decidimos que nenhum estará acima de vós, senão que todos cuidareis dos enfermos; e aquele que está menos enfermo dará graças a Deus e não se preocupará; e permitireis que aquele que estiver pior se humilhe mediante sua debilidade e não se orgulhe pela piedade. Desse modo todos os membros viverão em paz. E proibimos a todos que abracem a excessiva abstinência, antes que firmemente mantenham a vida em comunidade.

Sobre o Mestre

35. O Mestre pode, a quem lhe apraza, entregar o cavalo e a armadura e o que deseje de outro irmão, e o irmão cuja coisa pertencia não se sentirá vexado nem aborrecido: por que se se aborrece irá contra Deus.

Sobre dar Conselhos

36. Permitir só àqueles irmãos que o Mestre reconhece que darão sábios e bons conselhos sejam chamados para a reunião; e assim os ordenamos, e que de nenhuma outra forma alguém possa ser escolhido. Porque quando ocorrer que se deseje tratar de materias serias como a entrega de terra comunal, ou falar dos assuntos da casa, ou receber a um irmão, então, se o Mestre o desejar, ser apropriado reunir a congregação inteira para escutar o conselho de todo o capítulo; e o que considere o Mestre melhor e mais benéfico, deixar que assim se faça.

Sobre os Irmãos enviados a Ultramar

37. Os Irmãos que sejam enviados a diversos países do mundo deverão observar os mandatos da Regra segundo sua habilidade e viver sem desaprovação no que diz respeito a carne e o vinho, etc, para que recebam elogios de estranhos e não macular por feitos e palavras os preceitos da Ordem, e para ser um exemplo de boas obras e sabedoria; acima de tudo, para que aqueles com os quais se associem e em cuja pousadas repousem, sejam recebidos com honra. E a ser possível, a casa onde durmam e se hospedem que não fique sem luz durante a noite, para que os tenebrosos inimigos não os conduzam à maldade, dado que Deus assim o proibe.

Sobre Manter a Paz

38. Cada irmão deve se assegurar de não incitar outro à ira ou aborrecimento, porque a soberana piedade de Deus vê o irmão forte de forma igual que a um debilitado, em nome da Caridade.

Como devem atuar os Irmãos

39. A fim de levar a cabo seus santos deveres, merecer a Glória do Senhor e escapar do temível fogo do inferno, é concorde que todos os irmãos professos obedeçam estritamente a seu Mestre. Porque nada é mais agradável a Cristo Jesus que a obediência. Por esta razão, tão logo seja ordenado pelo pelo Mestre ou em quem haja delegado sua autoridade, deverá ser obedecido sem dilação como se o Cristo o tivesse imposto. Por isso Cristo Jesus pela boca de David disse e é certo: 'Ob auditu auris obdevit mihi'. Que quer dizer: "Me obedeceu tão pronto me escutou".

40. Por esta razão rezamos e firmemente damos como ditame aos irmãos cavaleiros que abandonaram sua ambição pessoal e a todos aqueles que servem por um período determinado, a não sair por povoados ou cidades sem a permissão do Mestre ou de quem o haja delegado, exceto pela noite ao Sepulcro e outros lugares de oração dentro dos muros da cidade de Jerusalém.

41. Lá, os irmãos irão aos pares, e de outra forma não poderão sair nem de dia nem de noite; e quando se detiverem em uma pousada, nenhum irmão, escudeiro ou sargento pode acudir aos aposentos de outro para ve-lo ou falar com ele sem permissão, tal como foi dito. Ordenamos, por unânime consentimento, que nesta Ordem regida por Deus, nenhum irmão deverá lutar ou descansar segundo sua vontade, senão seguindo as ordens do Mestre, a quem todos devem se submeter, para que sigam as indicações de Cristo Jesus, que disse: 'Non veni facere voluntatem meam, sed ejus qui meset me Patris'. Que significa: "Eu não vim para fazer minha própria vontade, senão a vontade de meu pai, quem me enviou".

Como devem Possuir e Intercambiar

42. Sem a permissão do Mestre ou de quem em seu lugar ostente o cargo, que nenhum irmão intercambie coisa alguma com outro, nem mesmo peça, a menos que seja de escasso valor ou nulo.

Sobre Fechos

43. Sem permissão do Mestre ou quem o represente, nenhum irmão terá uma bolsa ou sacola que possa ser fechada; mas os diretores de casas ou províncias e o Mestre não observarão isso. Sem o consentimento do Mestre ou seu comandante, que nenhum irmão tenha carta de seus parentes ou outras pessoas; mas se tem permissão, e assim o quer o Mestre ou comandante, essas cartas podem ser lidas.

Sobre Presentes de leigos

44. Se algo que não se pode conservar, como a carne, for presenteado em agradecimento a um irmão por um leigo, este o apresentará ao Mestre ou ao Comandante de gêneros alimentícios. Porém se ocorre que algum de seus amigos ou parentes deseje presentear só a ele, que não se aceite sem a permissão do Mestre ou seu delegado. E mais, se o irmão recebe qualquer outra coisa de seus parentes, que não o aceite sem permissão do Mestre ou de quem ostenta o cargo. Especificamos que os comandantes ou mordomos, que estão a cargo desses ofícios, que não se atenham à citada regra.

Sobre Faltas

45. Se algum irmão, falando ou em tropa indisciplinada, ou de algum outro modo comete um pecado venial, deverá voluntariamente dize-lo ao Mestre para se redimir com o coração limpo. Se não costuma a se redimir desse modo, que receba uma penitência leve, mas se a falta é muito séria, que se alije da companhia de seus irmãos de tal forma que não coma nem beba na mesa com eles, senão sozinho; e se submeterá à piedade e juízo do Mestre e irmãos, para que seja salvo do Juízo Final.

Sobre faltas Graves

46. Acima de tudo, devemos nos assegurar que nenhum irmão, poderoso ou não, forte ou debilitado, que deseje promover gradualmente reinvindicações orgulhosas, que defenda seu próprio crime e permaneça sem castigo. Porém, se não quiser se submeter por isso, que receba um castigo maior. E se misericordiosas orações do conselho se rezam por ele a Deus, e ele não quiser se emendar, senão que se orgulha mais e mais disso, que seja erradicado do rebanho piedoso, segundo o que o apóstolo disse: 'Auferte malum ex vobis'. Que quer dizer: "Aparta os malvados dentre os teus". É necessário para vós separar as ovelhas perversas da companhia dos irmãos piedosos.

47. E mais, o Mestre, que deve levar em suas mãos o báculo - e bastão de mando que sustenta as debilidades e fortaleza dos demais, deverá se ocupar disso. Mas também, como meu senhor St. Maxime disse:"Que a misericórdia não seja maior que a falta, nem que o excessivo castigo conduza o pecador a regressar às suas más ações".

Sobre a Maledicência

48. Mandamos, por divino conselho, o evitar as pragas da inveja, maledicência, despeito e calúnia. Portanto, cada um deve guardar zelosamente o que o apóstolo disse: 'No sis criminator et susurro in populu'. Que significa: "Não acuses ou prejudique o povo de Deus". Mas quando um irmão saiba com certeza que seu companheiro pecou, em privado e com fraternal misericórdia, que seja ele mesmo quem o admoeste secretamente, e, se não quiser escutar, outro irmão deverá ser chamado, e se os recusa a ambos, deverão dizê-lo publicamente perante o capítulo. Aqueles que depreciam seus semelhantes sofrem de terrível cegueira e muitos estão cheios de grande tristeza já que não desarraigam a inveja que sentem dos outros; e por isso, serão arremessados para a imemorável perversidade do demônio.

Que ninguém se orgulhe de suas faltas

49. As palavras vãs se sabe serem pecaminosas, e as dizem aqueles que se orgulham de seu próprio pecado frente ao justo juiz Cristo Jesus, o que fica demonstrado pelas palavras de David: 'Obmutui est silui a bonis'. Que significa: "Deveria inclusive refrear-se de falar bem e observar o silêncio". Também prevenis falar mal para evitar a desgraça do pecado. Ordenamos e firmemente proibimos que um irmão conte a outro irmão, ou a qualquer outro, as ações de valentia que desempenhou em sua vida secular e os prazeres da carne que manteve com mulheres imorais. Deverão ser consideradas faltas cometidas durante sua vida anterior e se sabe que foi expressa por algum outro irmão, deverá silenciá-lo imediatamente; e se não consegue, abandonará o lugar sem permitir que seu coração seja maculado por essas palavras.

Que Ninguém Peça

50. A este costume, entre outros, ordenamos que adotais firmemente: que nenhum irmão explícitamente peça o cavalo ou a armadura de outro. Será feito da seguinte maneira: se a enfermidade de um irmão ou a fragilidade de seus animais ou a armadura for conhecida e portanto não puder fazer o trabalho da casa sem perigo, que vá ao Mestre e exponha a situação a respeito, solicite fé e fraternidade, e se atenha à disposição do Mestre ou de quem ostente seu cargo.

Sobre animais e escudeiros

51. Cada irmão pode ter três cavalos e nenhum mais sem a permissão do Mestre devido a grande pobreza que existe na atualidade na casa de Deus e no Templo de Salomão. A cada irmão permitimos três cavalos e um escudeiro; e se este último serve por caridade, o irmão não deveria castigá-lo pelos pecados que cometa.

Que nenhum Irmão possa ter um bridão ornado

52. Nós proibimos enfaticamente a qualquer irmão que lustre o ouro ou prata de seus bridões, estribos e esporas. Isso se aplica se forem comprados. Porém, se forem presenteados por caridade, os arreios de prata e o ouro, que fiquem tão velhos que não reluzam, que sua beleza não possa ser vista por outros nem ser sinal de orgulho; então se poderá ficar com eles. Porém, se são presenteados novos, que seja o Mestre quem disponha deles como creia oportuno.

Sobre aljavas de Lança

53. Que nenhum irmão traga uma aljava nem para sua lança nem para seu escudo, pois não traz nenhum benefício, ao contrário, pode ser muito prejudicial.

Sobre bolsas de comida

54. Este mandato que estabelecemos é conveniente para todos e por esta razão exigimos seja observado de agora em diante, e que nenhum irmão possa portar uma bolsa para comida de linho ou lã, ou de qualquer outro material que não seja de "profinel".

Sobre a Caça

55. Proibimos coletivamente. Que nenhum irmão cace uma ave com outra. Não é adequado para um religioso sucumbir aos prazeres, senão escutar voluntariamente os mandamentos de Deus, estar frequentemente orando e confessar diariamente implorando a Deus em suas orações o perdão dos pecados que haja cometido. Nenhum irmão pode ter a presunção de ser um homem que caça uma ave com outra. Ao contrário, é apropriado para um religioso agir de modo simples e humildemente, sem rir e falar em demasia, com ponderação e sem levantar a voz. E por esta razão dispomos especialmente a todos os irmãos que não adentrem os bosques com lanças nem arcos para caçar animais, nem que o façam em companhia de caçadores, exceto movidos pelo amor de preservá-los dos pagãos infiéis. Nem devereis ir com cachorros, nem gritar, nem conversar, nem esporear vosso cavalo só pelo desejo de capturar um animal selvagem.

Sobre o Leão

56. É verdade que haveis entregue vossas almas por vossos irmãos, tal como o fez Cristo Jesus, e defender a terra dos incrédulos pagãos, inimigos do filho da Virgem Maria. Esta célebre proibição de caça não inclui de forma alguma o leão. Dado que vem sorrateiro e envolvente para capturar sua presa com suas garras contra o homem, ide com vossas mãos contra ele.

Como podem ter propriedades e homens

57. Esta bondosa nova ordem a cremos emanar das Sagradas Escrituras e da divina providência na Sagrada Terra do Leste. O que significa que esta companhia armada de cavaleiros pode matar os inimigos da cruz sem pecar. Por esta razão julgamos que deveis ser chamados Cavaleiros do Templo, com o duplo mérito e o garbo da honestidade; que podeis possuir terras e mantê-las, vilarejos e campos e os governais com justiça, e imponhais vosso direito tal e como está especificamente estabelecido.

Sobre os Dízimos

58. Vós haveis abandonado as sedutoras riquezas deste mundo e vos haveis submetido voluntariamante à pobreza; e por isso resolvemos que vós que viveis em comunidade possais receber dízimos. Se o bispo da localidade, a quem o dízimo deveria ser entregue por direito, deseja dá-lo por caridade com o consentimento do capítulo, pode doar esses dízimos que possui sua igreja. E mais, se um plebeu guarda os dízimos de seu patrimonio para si, em desfavor da igreja, e deseja cede-los a vós, o podeis aceitar com a permissão do prelado e seu capítulo.

Sobre fazer juízos

59. Sabemos, já que o vimos, que os perseguidores e amantes de lutas e dedicados cruelmente a atormentar os fiéis da Sagrada Igreja e seus amigos, são incontáveis. Pelo claro juízo do conselho, ordenamos que se alguém, nos lugares do Leste ou em qualquer outro sítio, os solicita parecer, porque crentes e amantes da verdade, deveis julgar o fato se a outra parte concorda. Este mesmo mandato se aplicará sempre que algo lhes seja roubado.

Sobre os Irmãos Idosos

60. Dispomos, por se tratar de um conselho compassivo, que os irmãos idosos e debilitados sejam honrados com diligência e recebam a atenção de acordo com sua fragilidade, e cuidados pela autoridade naqueles ofícios necessários para seu bem-estar físico, e que de forma alguma se sintam aflitos.

Sobre os Irmãos Enfermos

61. Que os irmãos enfermos recebam a consideração e os cuidados e sejam servidos segundo os ensinamentos do evangelhista e de Cristo Jesus: 'Infirmus fui et visitastis me'. Que significa: "Estive enfermo e visitastes", e que isso não seja esquecido. Porque aqueles irmãos que estão doentes deverão ser tratados com doçura e cuidado, porque por tal serviço, levado a cabo sem titubear, ganhareis o reino dos céus. Portanto, pedimos ao Enfermeiro que sábia e fervorosamente proveja o necessário aos diversos irmãos enfermos, como carne, legumes, aves e outros manjares, que o devolvam à saúde, segundo os meios e possibilidades da casa.

Sobre os Irmãos Falecidos

62. Quando um irmão passar da vida à morte, algo de que ninguém está excluído, digais missa por sua alma com misericordioso coração, e que o divino ofício seja executado pelos curas que servem ao rei. Vós que servis a caridade por um tempo determinado e todos os irmãos que estiverem presentes frente ao cadáver rezareis cem pai-nossos durante os sete dias seguintes. E todos os irmãos que estão sob a ordem da casa do irmão falecido, depois de tomarem conhecimento da morte, rezarão os cem pai-nossos, como se falou anteriormente, pela misericórdia de Deus. Também pedimos e rogamos, por nossa autoridade pastoral, que um mendigo seja alimentado com carne e vinho durante quarenta dias em memória do finado irmão, tal como o fizesse se estivesse vivo. Nós explicitamente proibimos todos os anteriores oferecimentos que costumavam fazer por vontade própria e sem sensatez os Pobres Cavaleiros do Templo frente a morte de irmãos na celebração da Páscoa ou outras festas.

63. E mais, deveis professar vossa fé com pureza de coração de dia e de noite para que possam se comparar, nesse aspecto, com o mais sábio dos profetas, que disse: 'Calicem salutaris accipiam'. Que quer dizer: "Eu beberei do cálice da salvação". O que significa: "Vingarei a morte de Cristo com minha morte. Porque da mesma maneira que Cristo Jesus deu seu corpo por mim, da mesma forma estou preparado para dar minha alma por meus irmãos". esta é uma oferenda apropriada, um sacrifício vivente e do agrado de Deus.

Sobre os Sacerdotes e clérigos que servem a Caridade

64. A totalidade do concílio em conselho os ordena prestar oferendas e todas as classes de esmola, sem importar o modo que possam ser dadas, aos capelães e clérigos e aos demais na caridade por um tempo deteminado. Seguindo os mandatos de Deus nosso Senhor, os que servem a Igreja só podem receber roupa e comida, e não podem ter a presunção de possuir nada, a menos que o Mestre deseje dar-lhes por caridade.

Sobre os Cavaleiros seculares

65. Aqueles que por piedade servem e permanecem convosco por um tempo determinado são cavaleiros da casa de Deus e do Templo de Salomão. Portanto, com piedade rezamos e assim dispomos finalmente que se durante sua permanência o poder de Deus se manifesta a algum deles, por amor a Deus e próprio da fraternal misericórdia, um mendigo seja alimentado durante sete dias para a salvação de sua alma, e cada irmão nessa casa deverá rezar trinta pai-nossos.

Sobre os Cavaleiros Seculares que servem por tempo determinado

66. Ordenamos que todos os cavaleiros seculares que desejem com pureza de coração servir a Cristo Jesus e à casa do Templo de Salomão por um período determinado, que adquiram, cumprindo a norma, um cavalo e armas adequadas e tudo o necessário para a tarefa. E mais, que ambas as partes deem um preço ao cavalo e que esse preço fique por escrito para não ser esquecido, e deixai que tudo o que o cavaleiro, seu escudeiro e seu cavalo necessitem provenha da caridade fraterna segundo os meios da casa. Se durante esse tempo determinado ocorrer que o cavalo morra a serviço da casa, se a casa o puder custear, o Mestre o responderá. Se ao final de sua permanência o cavaleiro deseja regressar a seu país, deverá deixar na casa, por caridade, a metade do preço do cavalo e a outra metade pode, se o desejar, recebe-la das esmolas da casa.

Sobre a Promessa dos Sargentos

67. Dado que os escudeiros e sargentos que desejam caritativamente servir na casa do Templo pela salvação de sua alma e por um período determinado venham de regiões muito diversas, é prudente que suas promessas sejam recebidas para que o inimigo invejoso não os faça se arrepender e renunciar a suas boas intenções.

Sobre as Capas Brancas

68. Por unânime consenso da totalidade do capítulo, proibimos e ordenamos a expulsão, por vicioso, a qualquer que sem discrição haja estado na casa de Deus e dos Cavaleiros do Templo. Também, que os sargentos e escudeiros não tenham hábitos brancos, dado que esse costume trouxe grande desonra à casa, pois nas regiões além das montanhas falsos irmãos, homens casados e outros, que fingiam ser irmãos do Templo, as usaram para jurar sobre elas sobre assuntos mundanos. Trouxeram tanta vergonha e prejuízo à Ordem de Cavalaria que até seus escudeiros riram; e por esta razão sugiram muitos escândalos. Portanto, que se lhes entregue hábitos negros, mas se esses não se pode encontrar, lhes deverá ser dado o que se encontre nessa província ou que seja mais econômico que o burel.

Sobre irmãos Casados

69. Se homens casados pedirem para ser admitidos na fraternidade, prestar favores e ser devotos da casa, permitimos que os recebais sob as seguintes condições; ao morrer deverão deixar uma parte de suas propriedades e tudo que tiverem obtido desde o dia de seu ingresso. Durante sua permanência, deverão levar uma vida honesta e comprometerem-se a agir em favor de seus irmãos, porém, não deverão levar hábitos brancos nem mandil. E mais, se o senhor falecer antes de sua esposa, os irmãos ficarão só com uma parte de seus bens, deixando para a dama o resto a fim de que possa viver sozinha durante o resto de sua existência, posto que não é correto perante nós, que ela viva como confrade em uma casa junto a irmãos que prometeram castidade a Deus.

Sobre Irmãs

70. A companhia das mulheres é assunto perigoso porque por sua culpa o experimentado diabo desencaminhou a muitos do reto caminho do Paraíso. Portanto, que as mulheres não sejam admitidas como irmãs na casa do Templo. Por isso, queridos irmãos, que não consideramos apropriado seguir esse costume para que a flor da castidade permaneça sempre impoluta entre vós.

Que não tenham intimidades com mulheres

71. Cremos imprudente para um religioso olhar muito o rosto de uma mulher. Por esta razão ninguém deve se atrever a beijar uma mulher, seja viúva, menina, mãe, irmã, tia ou outro qualquer parentesco, e recomendamos que a cavalaria de Cristo Jesus evite a todo custo os abraços de mulheres, pelos quais muitos homens pereceram, para que se mantenham eternamente perante Deus com a consciência pura e a vida inviolável.

Não ser Padrinhos

72. Proibimos que os irmãos, de agora em diante, levem crianças à pia batismal. Ninguém deverá se envergonhar de recusar a ser padrinho ou madrinha, já que esta vergonha traz consigo mais glória que pecado.

Sobre os Mandatos

73. Todos os mandatos que se mencionaram e escreveram aqui nesta presente Regra estão sujeitos ao juízo do Mestre.

Estes são os Dias Festivos e de Jejum que todos os Irmãos devem Celebrar e Observar

74. Que saibam todos os presentes e futuros irmãos do templo que devem jejuar nas vigílias dos doze apóstolos, que são: São Pedro, São Paulo, Santo André, São Thiago, São Felipe, São Tomé, São Bartolomeu, São Simão, São Judas Tadeu, São Mateus. A vigília de São João Batista, a vigília da Ascenção e os dois dias anteriores, os dias de rogativas, a vigília de Pesntecostes, as quatro Temporas, a vigília de São Lurenço, a vigília de Nossa Senhora da Ascenção, a vigília de Todos os Santos, a Vigília da Epifania. E deverão jejuar em tosos os dias citados segundo disposição do Papa Inocêncio no Concílio da cidade de Pisa. E se alguns dos dias de jejum cai numa Segunda-feira, deverão jejuar no Sábado anterior. Se o Natal de Nosso Senhor cai numa Sexta-feira, os irmãos comerão carne em honra da fessta, mas deverão jejuar no dia de São Marcos devido às Litanias, porque assim foi estabelecido por Roma para os homens mortais. Noão obstante, se cai durante a oitava da Páscoa, não deverão jejuar.

Estes são os Dias de Jejum que deverão ser observados na Casa do Templo

75. Natal de Nosso Senhor; a festa de Santo Estevão; São João Evangelista; os Santos Inocentes; o oitavo dia depois do Natal, que é o dia de Ano Novo; a Epifania; Santa Maria Candelária; São Matias Apóstolo; a Anunciação de Nossa Senhora em Março; Páscoa e os três dias seguintes ao dia de São Jorge; os Santos Felipe e Thiago, dois apóstolos; o encontro da Vera Cruz; a Ascenção do Senhor; Pentecostes e os seguintes: São João Batista; São Pedro e São Paulo, dois apóstolos; Sant Maria Madalena; São Thiago Apóstolo; São Lourenço; a Ascenção de Nossa Senhora; a natividade de Nossa Senhora; a Exaltação da Cruz; São Mateus Apóstolo, São Miguel; Os Santos Simão e Judas; a festa de Todos os Santos; São Martinho no inverno; Santa Catarina no inverno; Santo André; São Nicolau no inverno; São Tomé Apóstolo.

76. Nenhuma das festas menore se deve observar na casa do Templo e desejamos e aconselhamos que se cumpra estritamente: todos os irmãos do Templo deverão jejuar desde o Domingo anterior a São Martinho até o Natal de Nosso Senhor, a menos que a enfermidade o impeça. Se ocorrer que a festa de São Martinho caia num Domingo, os irmãos não comeram carne no Domingo anterior.




Cronologia Histórica da Ordem



(Tradução de matéria extraída de: http://www.osmtj.org/Secciones/Historia/cronologia.htm)



Guillermo, Bispo de Tiro, fala de 1119 como o ano onde, em Jerusalém, "certos" nobres cavaleiros fizeram profissão por Cristo. Outros historiadores da época citam o ano de começo da Ordem em 1118.Mil cento e dezoito ou mil cento e dezenove, hoje ninguém duvida de que as atividades dos Pobres Cavaleiros de Cristo começaram muito antes. Esta é a história da Ordem do Templo.



1118 - Criação da Ordem por nove cavaleiros que recebem o apoio do Rei de Jerusalém Balduíno II, quem lhes cede uma parte de seu palácio, sobre as ruínas do Templo de Salomão.



1127 - Hugo de Payens e cinco de seus cavaleiros, portando uma carta de apresentação de Balduíno II a Bernardo de Claraval e financiando o rei de Jerusalém a viagem, regressam a Europa para conseguir apoios e obter a autorização eclesiástica para a fundação da Ordem e a aprovação de sua "regra" de vida.



1128 - Contando com o apoio de São Bernardo, o Mestre consegue que o Papa Honório II convoque o Concílio de Troyes que autorizará eclesiasticamente a ordem já fundada.



1130 - Depois do concílio dedicam-se a percorrer a Europa em busca de cavaleiros e doações para a Ordem. Conseguem importantes dádivas da maioria das casas reinantes e estabelecem as bases das províncias templárias no continente, Inglaterra e Escócia.Nesse mesmo ano, escreve Bernardo de Claraval sua "De laude novae militiae" onde tenta conciliar a idéia do monge e do guerreiro em uma só pessoa e por sua vez e de forma muito audaz, cruza o umbral da chamada "guerra justa" na qual se combate pelo bem comum a "guerra santa" na qual se combate em nome de Deus.


1136 - Em 24 de maio falece Hugo de Payens. Sucede-o Roberto de Craón, chamado "O Borgonhez", um nobre proveniente de Anjou. Cria-se uma base sólida e estrutura para poder governá-la com eficiência.


1139 - (29-03) É promulgada a bula "OMNE DATUM OPTIMUM" que foi a "carta magna" da Ordem. Nela, Inocêncio II liber o Temple de toda a sujeição à autoridade eclesiástica, exceto a do Papa e concede além disso outros importantes privilégios.



1140 - É provavelmente o ano que se produz a tradução da regra Latina para o francês. Essa tradução se realizou com algumas modificações substanciais. Os templários obtem a cidade de Gaza e a fortaleza de Safed, na Galiléia.



1144 - A bula "MILITES DEI" lhes concede o benefício de fazer coleta uma vez por ano em cada igreja secular. Cai nas mãos do Islam o condade de Edesa, na Terra Santa. É o fato que desencadeia a II cruzada.


1145 - A bula "MILITIA DEI", dirigida aos bispos, lhes notifica a autorização ao Templo para construir seus oratórios.


1147 - O Papa Eugênio III concede ao Templo o uso da cruz no manto.


1149 - Falece Roberto de Craon. Sucede-o Everardo de Barres, o qual parte para a França em companhia de Luis VII que também regressa da cruzada.


1150 - De Barres preside um capítulo em Paris (14-05-1150). Andrés de Montbar, Senescal da Ordem, escreve-lhe uma carta anunciando a morte de Raimundo de Antióquia e o reclama em Jerusalém.


1151 - Em lugar de regressar à Terra Santa, De Barres decide buscar uma vida mais tranquila e se retira para o monastério cistercience de Citeaux. Bernarde de Tremelay é o Mestre do Templo. Diversas fontes citam também Hugo Jofre como Mestre.


1153 - No sítio à fortaleza de Ascalón, falece Tremelay. O novo Mestre é André de Montbard, da família de Bernardo de Claraval.


1156 - (17-01) Falece André de Montabard. Sucede-o Bertrand de Blanquefort.



1160 - A bula "DILECTI FILII" obriga o clero secular a aceitar a quarta parte da doação testamentária (em lugar da terça, com vinha sendo habitual), por parte daqueles que desejavam ser enterrados em cemitérios templários.


1163 - Fica estruturada a organização da Ordem, através dos "Retraits". Constavam de 675 artigos e se agregaram à "Regra" da Ordem. Definiam a vida conventual e o estado hierárquico, regulavam os capítulos, a eleição de Mestre, e os castigos e penitências para as violações da regra. Também fixavam a forma de admissão dos aspirantes.


1169 - É eleito Mestre Felipe de Mailli (ou de Naplusia).


1171 - Verifica-se a renúncia do Mestre F. De Milli. É eleito Odón de Saint Amand, que havia sido mariscal do Reino de Jerusalém. Este último foi feito prisioneiro por Saladino, en Sidón e morre no cativeiro, em Damasco em 1.179.



1179 - É Mestre, Arnoldo de Torroja. Que havia sido Mestre da Cataluña e Aragón.



1185 - Falece Arnoldo de Torroja e khe sucede Gerard de Ridefort. É possível que entre os dois tivesse sido Mestre Frai Terrico.



1187 - O sultão Saladino derrota os cruzados na batalha de Hattin. Perde-se a cidade de Jerusalém. Cai São João de Acre. O Templo se instala em Chipre. Gregório VIII convoca III Cruzada.


1189 - (04-10) Morre G. de Ridefort tentando reconquistar Acre.


1190 - É Mestre Robert de Sable, natural de Anjou.


1191 - Reconquista de Acre. Os Templários voltam a seu estabelecimento principal.


1192 - (05-04) O Templo abandona o castelo de Nicósia e toda a ilha de Chipre.


1193 - Morre R. de Sablé. Gilbert Erail lhe sucede.


1197 - Ponce Rigaldo é Mestre.


1200 - A rede de estabelecimentos dentro da Europa proporciona serviços financeiros confiáveis, honrados e eficazes aos governantes, inclusive aos reis da Inglaterra e França.


1201 - Felipe de Plaissiez é Mestre.


1208 - Inocêncio III faz advertências ao Templo.


1209 - Guilaume de Chartres, Mestre.



1210 - O Templo ataca o castelo de Khawabi, da seita dos assasins.


1218 - É entregue à Ordem o Castelo Pélegrin.


1219 - Morre Chartres em Damieta. O sucede Pierre de Montaigú, que foi preceptor de Jaime I, em Monzón.


1229 - A Ordem enfrenta Frederico II que tenta sem êxito tomar Acre.


1230 - Estatutos hierárquicos (usos e costumes).


1232 - Armand de Perigoud, Mestre. Negocia com o sultão de Damasco a restauração do culto cristão em Jerusalém.


1244 - Richard de Bues, Mestre. Morre Armand de Perigoud e 312 cavaleiros na batalha de Herbiya. Perda definitiva de Jerusalém.


1247 - Guillaume de Sonnac, Mestre.


1249 - (06-06) Batalha de Damieta.


1250 - Batalha de "Mansurah". Luis IX e o Templo sofrem uma impressionante derrota. Na retirada morre de Sonnac (05-04). O sucede Reinaldo de Vichiers, preceptor da França e Mariscal da Ordem.


1256 - Morre Vichiers. Thomas Berard, Mestre.


1257 - Considerações (cerimônias).


1267 - Professa Jacobo de Molay.


1271 - O sultão do Egito, Baibars captura o melhor dos Cavaleiros, da Ordem dos Hospitalários.


1272 - Morre Bérard. O sucede Guillaume de Beaujeu. Entre os dois é possível que fosse Mestre Wilfredo de Salvaing.


1274 - O concílio de Lión tenta a união entre templários e hospitalários.


1285 - É coroado Felipe IV, rei da França.


1287 - Perde-se Trípoli.


1291 - Perde-se São João de Acre, última cidade cristã na Terra Santa. De Beaujeu morre no combate. Thibau Gaudin o sucede.


1294 - (1292/1296)? Jacques de Molay é Mestre.


1299 - Expedição templária ao Egito.


1303 - Perde-se a ilha de Rodhes, frente à fortaleza de Tortosa.


1304 - Conclave de Perusa (Agen). Primeiras acusações contra o Templo.


1305 - (14-11) Clemente V (Beltran de Got) é coroado Papa em Lyón.


1306 - Clemente V ordena J. de Molay vir de Chipre.


1307 - No início do ano de Molay chega a Paris. (14/09) O Rei da França envia aos juízes cartas lacradas com a ordem de prisão dos templários por "presunções e fortes suspeitas" originadas pela "denúncia" de Esquieu de Floryan. (14/10) Divulga-se em Paris o manifesto real e se executa a ordem de prisão. A acusação é de apostasia, ultraje a Cristo, ritos obscenos, sodomia e idolatria. (19/10 a 24/11). Procede-se aos interrogatórios. Dos 138 interrogados, 36 morrem por torturas. (27/10). Clemente V protesta frente Felipe de França pela prisão (22/11). A bula PASTORALIS PRAEMINENTIAE, de Clemente V ordena aos príncipes cristãos que prendam os templários. Á mudança de atitude se deve a falsas acusações criadas por ele em torno do Rei francês.



1308 - (25/3) O rei da França convoca seu Estado Maior e exige que os templários sejam condenados. (25/5) Felipe O Belo se desloca até Poitiers para se entrevistar com o Papa. (27/6 a 1/7) 72 templários comparecem perante Clemente V. O Rei mantém a custódia dos bens, mas a [custódia] das pessoas passa para a Igreja. (12/8) São nomeadas comissões eclesiásticas sob a autoridade do bispo de cada diocese.


1309 - (8/8) Abre as sessões a comissão eclesiástica de Paris, um ano depois de sua constituição. (26/11) Comparece frente a comissão J. de Molay.


1310 - (11 de maio) Concílio provincial em Sens. 45 templários revogam suas confissões, são acusados de "relapsos". São executados no dia seguinte.


1311 - (5 de junho) A comissão episcopal dá por terminados seus trabalhos, concedendo que não se pode condenar à Ordem sem ter ouvido publicamente sua defesa. (16/10) Abertura do concílio de Viena.


1312 - (20-03) Felipe se apresenta no Concílio de Viena. (22/3) Supressão sem condenação. Vox in excelso. Na Escócia não se promulga dado que o Rei Robert de Bruce estava excomungado. (2-5) A bula Ad Providam distribui os bens do Templo.


1313 - Bulas papais para que os reconciliados fossem recebidos em monastérios.


1314 - (18/03) Sentença contra Molay e dignitários (19/03) Morre na fogueira Molay e Charnay.






Do Elogio à Nova Milícia - São Bernardo

Eis aqui outro orientador espiritual, este para uso dos Cavaleiros Templários, meio monges, meio guerreiros.

PRÓLOGO

A Hugo, Soldado de Cristo e Mestre de sua Milícia,
Bernardo Abade, só no nome, de Claraval,
Saudações e que lutes o bom combate.

Uma, e depois outra, e até três vezes, se não me engano, havias me pedido, caríssimo Hugo, que dirigisse a ti e a teus companheiros algumas palavras de alento que, se não prejudicassem a lança, vibrassem pelo menos a pena contra o inimigo tirano. E que sempre me afirmavas que tinham de ser um grande estímulo, para que, por não ser possível ajudarmos com as armas, os exortasse e animasse com meus escritos.

Demorei algum tempo em satisfazer teus desejos, não porque desdenhasse teu pedido, antes temendo que, se o aceitasse, me culpassem de precipitado e rápido, posto que, podendo fazê-lo qualquer outro melhor, presumia eu de poder sair airoso de tal empresa, e assim, prejudicava o fruto que podia se obter de coisa tão necessária. Mas ao ver que ,minha grande demora de nada me servia, pois insistias uma e outra vez, ainda que incompetente, decidi-me a fazer o que estava em mim. O leitor julgará se satisfiz seus desejos. Embora certamente, como escrevi este opúsculo senão para contentar-te e aceder ao que me pedias, não me preocupa muito que agrade àqueles que o lerem.

CAPÍTULO I

Elogio à Nova Milícia

Ouve-se dizer que um novo gênero de milícia acaba de nascer na terra, e precisamente naquela região onde antigamente viera nos visitar em carne o Sol Oriente, para que alí mesmo onde expulsou com o poder de seu robusto braço os príncipes das trevas, expulse agora os satélites daqueles, filhos da infidelidade e da confusão, por meio desses seus fortes, resgatando também o povo de Deus e suscitando um poderoso Salvador na casa de David seu servo.



Sim, um novo gênero de milícia nasceu, desconhecido em séculos passados, destinado a lutar sem trégua um duplo combate contra a carne e sangue e contra os espíritos malignos que povoam os ares. Sem dúvida, quando vejo combater só com as forças corporais um inimigo também corporal, não só o tenho por caso maravilhoso, porém sequer o julgo raro. Quando igualmente observo como as forças da alma guerream contra os demônios, tampouco me parece isso assombroso, embora seja muito digno de elogio, pois cheio está o mundo de monges, e todos costumam manter essas lutas. Mas quando se vê que um só homem carrega em seu flanco com ardor e coragem sua dupla espada e cinge os quadrís com um duplo cíngulo, quem não julgará caso insólito e digno de grandíssima admiração? Intrépido e bravo soldado aquele que, enquanto reveste seu corpo com a couraça de aço, guarnece sua alma sob a loriga da fé; pode gozar de completa segurança, porque equipado com essas duplas armas defensivas, não tem que temer aos homens nem aos demônios. E mais, nem sequer teme a morte, antes a deseja. O que poderia assustá-lo vivo ou morto, quando seu viver é Cristo? Ao contrário, desejaria melhor acabar de se soltar do corpo para estar com Cristo, sendo isso o melhor.

Marchai, pois, soldados, ao combate com passo firme e marcial e carregado de valoroso ânimo contra os inimigos de Cristo, bem seguros de que nem a morte nem a vida poderão separá-los da caridade de Deus, que está em Cristo Jesus. No fragor do combate proclamai: Quer vivamos, quer morramos, somos do Senhor. Quão gloriosos se tornam ao regresso triunfal da batalha! Por quão ditosos se teem quando morrem como mártires no campo de combate! Alegra-te, fortíssimo atleta, se vives e vences no Senhor; porém, regozija-te mais e dê saltos de alegria se morres e te unes ao Senhor. A vida te é certamente proveitosa e de grande utilidade, e o triunfo te acarreta a verdadeira glória; mas não sem grande razão se antepóe a tudo isso uma santa morte. Porque se são bem-aventurados os que morrem no Senhor, quanto mais o serão os que sucumbem por Ele!

É verdade certa é que, quer os visite no leito, que os surpreenda no fragor do combate, sempre será preciosa no acatamento do Senhor a morte de seus santos. Mas no ardor da refrega será tanto mais preciosa quanto mais gloriosa Oh, vida segura, quando vai acompanhada de boa consciência! Oh vida seguríssima, repito, quando nem sequer a morte se espera com receio, antes, se a deseja com amorosas ansias e se a recebe com doce devoção. Oh verdadeiramente santa e segura milícia, livre daquele duplo perigo que com frequencia costuma assustar aos homens quando não é Cristo quem os põem na luta!

Quantas vezes, ao travar combate com teu inimigo, tu, que militas nos exércitos do século, temes que, matando-lhe no corpo, matas também sua alma. Ou que, sendo tu morto pelo aço de teu rival, percas juntamente a vida da alma e a vida do corpo!

Porque não é pelo resultado material da luta, antes pelos sentimentos do coração pelo que julgamos os Cristãos acerca do risco corrido em uma guerra ou da vitória ganha; porque se a causa é boa, não poderá ser nunca mau o resultado, seja qual for o êxito , assim como não poderá se ter por boa a vitória ao final da campanha, quando a causa pela qual se iniciou não o foi e os que a provocaram não tiveram reta intenção. Se querendo matar a outro, és tu o morto, morres já homicida. E se prevaleces sobre teu contrário e, levado pelo desejo de vencer-lhe, mata-o, embora vivas, és também homicida. Infausta vitória na que, triunfando do homem, sucumbes ao pecado! E se a ira ou a soberba te avassalam, vãmente te jactas por haver dominado a teu oponente.

Dá-se outro caso, à exceção dos ditos, e é o de quem mata, não por zêlo de vingança, nem pela perversidade de gozar do triunfo, senão para evitar o mesmo a morte. Porém tampouco direi seja boa tal vitória; porque dentre dois males, como são a morte da alma ou a morte do corpo, preferível é a segunda; não porque morra o corpo morre também na alma, antes a alma que pecar, ela morrerá.


CAPÍTULO II

Da Milícia Secular

Qual será, pois, o fino fruto do que não chamo de milícia, senão de milícia secular, se o que mata peca mortalmente e o que cai morto perece para sempre? Porque se a esperança faz arar ao que ara, para usar as palavras do Apóstolo, e o que separa o faz esperando receber o fruto, que estranho erro é esse em que viveis, soldados do século? Que fúria frenética e intolerável os arrebata para que de tal modo guerreais passando grandes sofrimentos e gastando toda vossa economia, sem mais resultado que vir a parar no pecado ou na morte? Vestis vossos cavalos com sedas; aplicam em vossas couraças e lorigas não sei que plumas de diversos tecidos; pintais as ponteiras dos escudos, as capas dos escudos, as selas de montar, mandais fazer de ouro e prata os freio e as esporas, adornando-os de pedrarias, e assim, com toda a pompa, cheios de vergonhoso furor e imprudente estupor, cavalgais a passo ligeiro para a morte. São essas insígnias militares ou melhor enfeites de mulheres? Acaso a adaga inimiga retrocederá ante o brilho do ouro? Respeitará as ricas pedras? Não se atreverá a cortar e rasgar as sedas? Enfim, não vos foi ensinado a vós mesmos a experiência diária que para um soldado em campanha o mais necessário são três coisas, convém saber: valor, Sagacidade e cautela para parar os golpes do inimigo, soltura e agilidade de movimentos que vos permita ir ligeiro em vosso avanço e perseguição, e, por último, que estejais sempre pronto e rápido para feri-lo e derrubá-lo.

A vós vemos, pelo contrário, cuidar com esmero vossa cabeleira ao jeito feminino, o qual redunda em prejuízo de vossa visão no estrondo da guerra; vos envolveis com longos camisões que chegam até os pés e os travam; e, enfim, sepultais em amplas e complicadas mangas vossas mãos delicadas e ternas. Sobre tudo isso adicionais o que mais pode amedrontar a consciência de um soldado que sai em campanha, quero dizer, o motivo leviano e frívolo pelo qual teve a imprudência de se meter em milícia tão perigosa.

Por certo é que todas vossas diferenças e guerras nascem só de certos arrebatamentos de ira, ou de vãos desejos de glória, ou de ambição para conquistar alguma vantagem terrena. E, por tais motivos, certo que não se pode com segura consciência nem matar nem ceder.

CAPÍTULO III

Dos Soldados de Cristo

E mais, os soldados de Cristo lutam com segurança as batalhas do Senhor, sem temor de cometer pecado por morte do inimigo, nem por desconfiança de sua salvação em caso de sucumbir. Porque dar ou receber a morte por Cristo não só não implica uma ofensa a Deus nem culpa alguma, senão que merece muita glória; pois no primeiro caso, o homem luta por seu Senhor, e no segundo, o Senhor se dá ao homem por prêmio, olhando Cristo com agrado a vingança que se lhe faz de seu inimigo, e ainda com agrado maior se oferece o próprio por consolo ao que cai na lida. Assim, pois, digamos uma e mais vezes que o Cavaleiro de Cristo mata com segurança de consciência e morre com maior confiança e segurança ainda.

Utilidade tira para si, se sucumbe, e triunfo para Cristo, se vence. Não sem motivo leva a espada à cinta. Ministro de Deus é para castigar severamente os que se dizem seus inimigos; de Sua Divina Majestade recebeu o zero, para castigo dos que agem mal e exaltação dos que praticam o bem. Quando tira vida de um malfeitor não se lhe há de chamar homicida, senão "malicida", se vale a palavra, executa pontualmente as vinganças de Cristo sobre os que praticam a iniquidade, e com razão adquire o título de defensor dos cristãos. Se o matam, não dizemos que se perdeu, senão que se salvou. A morte que dá é para a glória de Cristo, e a que recebe, para sua própria. Na morte de um pagão pode se gloriar um cristão porque sai glorificado Cristo; morrendo valorosamente por Cristo mostra-se a liberalidade do Grande Rei, posto que tira seu Cavaleiro da terra para dar-lhe o galardão. Assim, pois, o justo se alegrará quando o primeiro deles sucumba, vendo aparecer a divina vingança. Mas se cai o guerreiro do Senhor, dirá: acaso não haverá recompensa para o justo? Certo que sim, pois há um Deus que julga os homens sobre a terra.

Claro está que não se haveria de dar morte aos pagãos se se pudesse refreá-los por outro qualquer meio, de modo que não acometessem nem perseguissem os fiéis e os oprimissem.Mas por enquanto vale mais acabar com eles que tirar de suas mãos a vara com que haviam de escravizar os justos, e que não sejam os justos que afrouxem suas mãos à iniquidade.

Pois, porque, se não é lícito em absoluto ao Cristão ferir com a espada, como o Pregoeiro de Cristo exortava os soldados a se contentar com o soldo, sem proibir-lhes continuar em sua profissão? Isto suposto, se por particular providência de Deus se permite ferir com a espada os que abraçam a carreira militar, sem aspirar outro gênero de vida mais perfeito, a quem, pergunto eu, será mais permitido que os valentes, por cujo braço esforçado retemos ainda a fortaleza da cidade de Sión, como baluarte protetor aonde possa se acolher o povo santo, guardião da verdade, depois de expulsos os violadores da Lei Divina? Dissipai, pois, e desfazei sem temor a essas pessoas que só respiram guerra; passai à espada aos que semeiam o medo e a dúvida entre vossas filas; expulsai da cidade do Senhor todos os que praticam a iniquidade e ardem em desejos de saquear todos os tesouros do povo cristão guardados dentro dos muros de Jerusalém, que só cobiçam se apoderar do santuário de Deus e profanar todos nossos santos mistérios. Desembainhe-se a dupla espada, espiritual e material, dos cristãos, e descarregue com força sobre a testa dos inimigos, para destruir tudo o que se ergue contra a ciência de Deus, ou seja, contra a fé dos seguidores de Cristo; não digam nunca os fiéis 'Onde está seu Deus'?

Quando eles partirem em fuga e derrotados, voltará então à sua propriedade e à sua casa, da que diz de forma irada o Evangelho: Eis que vossa casa ficará deserta e um profeta queixa-se desse modo: Tive que me ausentar de minha casa e templo e deixar abandonada minha propriedade. Se, então se cumprirá aquele vaticínio profético que diz: O Senhor redimiu seu povo e o livrou das mãos do poderoso; e virão e cantarão hinos a Deus no monte Sión, e se juntarão aos bens do Senhor.

Regozija-te, Jerusalém, porque chegou o tempo da visita de teu Deus. Enche também de júbilo, desertos de Jerusalém, e prorrompei em celebrações, porque o Senhor aliviou a aflição de seu povo, redimiu sua cidade santa e levantou poderosamente seu braço frente aos olhos de todas as nações. Virgem de Israel, havias caído sem que houvesse quem te desse a mão para te levantar. Ergue-te agora, sacode o pó, Virgem cativa filha de Sion.

Levanta-te, repito, suba ao topo de tuas torres e vislumbra dalí os rios caudalosos de gozo e alegria que o Senhor faz correr para ti. De agora em diante não te chamarão "a abandonada", nem tua terra se verá por mais tempo desolada, porque o Senhor se comprouve em ti e voltarás a ter teus campos repovoado. Olhe ao redor e veja: todos se juntaram para vir a ti. Eis aí o socorro que te foi enviado do alto. Por eles a ti será cumprida a antiga promessa: te colocarei para a glória dos séculos e gozo de geração em geração; mamarás o leite das nações e te criarão o valor dos reis. E também, como a mãe acaricia seus filhinhos, assim também eu os aliviarei e em Jerusalém serás aliviado. Não ves com quantos testemunhos antigos fica aprovada vossa milícia e como se cumprem ante vossos olhos os oráculos alusivos à cidade das virtudes do Senhor? Mas de forma que o sentido literal não impeça que entendamos e creiamos no espiritual, e que a interpretação que agora damos na terra às palavras dos profetas não obste para que esperemos vê-las cumpridas na eternidade gloriosa; não seja pelo que vemos que se nos desvaneça o que diz a fé, e pelo pouco que temos percamos a esperança nas copiosas riquezas, e, por fim, pela certeza do presente esqueçamos o futuro. Quanto ao mais, a glória temporal da Jerusalém terrena não só se destrói ou diminui os gozos que teremos na celestial, senão que os aumenta, se temos bastante fé e não duvidemos que esta daquí embaixo só é uma imagem da dos céus, que é nossa mãe.

CAPÍTULO IV

Do modo de viver dos Soldados de Cristo

Mais para imitação ou confusão de nossos soldados que não militam com certeza para Deus, senão para o diabo, digamos brevemente qual há de ser a vida e os feitos dos Cavaleiros de Cristo e como hão de se haver em tempo de paz e em dias de guerra, para que se veja claramente quanta é a diferença entre a milícia do século e a de Deus. E antes de tudo, tanto em uma como na outra dá-se grandíssima importância à obediência e tem-se em muito alto conceito a disciplina, sabendo todos quanta verdade se encerra naqueles [ditos] da Escritura: o filho indisciplinado perecerá. E naquele outro: O desobedecer ao Senhor é como o pecado de magia, e como crime de idolatria o não querer se submeter. Vão e vem estes estes bons soldados a um sinal de mando, põem as roupas que ordena o Capitão, não tomam alimento nem vestem uniforme fora dos estipulados por ele. E o mesmo quanto ao comer e no que vestir evitam todo o superfluo, satisfeitos com o necessário. Levam a vida comum dentro de alegre, mas modesta e sóbria camaradagem, sem esposas e sem filhos. Para que nada falte à perfeição evangélica, não possuem nada de próprio, pensando só em conservar entre si a união e a paz. Direis que toda aquela multidão de homens tem um só coração e uma só alma; até tal ponto que nenhum deles quer se orientar por sua própria vontade, senão seguir em tudo a daquele que manda. Jamais estão ociosos nem vagam daqui para lá em busca de curiosidades, senão que durante todo o tempo, em que não estão em campanha, o que raras vezes ocorre, a fim de comer o pão gratuito, ocupam-se em limpar, remendar, tirar o môfo, compor e reparar tanto as armas como as vestimentas, para preservá-los e conservá-los contra os desgastes do tempo e do uso; e quando não isso, obedecem o que lhes ordena o capitão e trabalham no que é necessário para todos.

Não os vereis favorecer pessoas; respeitam e obedecem sempre ao representante de Deus, sem se preocupar em se é ou não é o mais nobre. Recatam-se mutuamente de mostras de honra e deferencias, suportam as obrigações uns dos outros, cumprindo com isso a Lei de Cristo. Não se estilam entre eles palavras arrogantes, nem ocupações inúteis, nem risos sem compostura, nem o mais leve murmúrio; e se algum incorresse nisso, não ficaria sem corretivo.

Tem aversão à prestidigitação e jogos de azar; tampouco se dedicam à caça e não se permitem à falconagem, embora tão generalizada. Abominam cômicos, magos e bufões, cujo trato evitam com cuidado; detestam as toadas engraçadas, as comédias e toda a linha de espetáculos, como puras vaidades e necessidades enganosas.

Cortam o próprio cabelo, sabendo pelos ensinamentos do apóstolo que é uma vergonha para os homens o pentear cabelos compridos. Nunca enfeitam os cabelos, raras vezes tomam banho, andam com a barba cerrada, geralmente cobertos de poeira e enegrecidos pelas cotas dde malha e queimados pelo sol.

Ao se aproximar o combate, armam-se de fé em sua alma e cobrem-se por fora de ferro, não de ouro, a fim de que assim, bem equipados de armas, não engalanados de jóias, infundam medo a seus inimigos sem provocar sua cobiça. Procuram cavalos fortes e velozes, não formosos e bem arreiados, pensando mais em vencer que em ostentar altivez, e o que desejam não é precisamente causar admiração e pasmo, senão turbação e medo.

E até começar a luta, não se lançam a ela impetuosos e de forma turbulenta, como empurrados pela precipitação, senão com suma prudência e extrema cautela, ordenando-se todos em coluna cerrada para se apresentar à batalha, segundo lemos, que costumava fazer o povo de Israel. Mostrando-se em tudo verdadeiros israelitas, se adiantam ao combate pacífica e sossegadamente. Mas apenas o clarim dá o sinal de ataque, deixando subitamente sua natural benignidade, parecem gritar com o salmista: Não odiei, Senhor, àqueles a que tinhas aversão? Não me recriminastes ante a conduta de teus inimigos? E assim davam carga sobre seus adversários, tal como entrassem em um rebanho de cordeiros, sem que, apesar de seu escasso número, se intimidem ante a crudelíssima barbárie e ingente multidão das hostes contrárias. É que aprenderam a confiar não em suas próprias forças, senão no poder do Senhor Deus dos exércitos, em quem está a vitória, o qual, segundo se diz nos Macabeus, pode facilmente por meio de um punhado de valentes acabar com grandes multidões, e sabe livrar seus soldados com igual arte das mãos de poucos com de muitos; porque o triunfo não está em que um exército seja numeroso, senão que a fortaleza provem do céu.

Experiência frequentíssima tem disto, porque mais de uma vez lhes ocorreu derrotar e afugentar o inimigo, lutando um contra mil e dois contra dez mil.

Enfim, estes Soldados de Cristo, de modo maravilhoso e singular, mostram-se tão mansos como cordeiros e tão ferozes como leões, não se sabendo se lhe hás de chamar monges ou guerreiros ou dar-lhes outro nome mais apropriado que abarque a ambos, pois conseguem irmanar a mansidão de uns com o valor e a fortaleza de outros. Acerca de tudo isso, que dizer, senão que tudo isso é obra de Deus, e obra admirável a nossos olhos? Eis aqui os homens fortes que o Senhor foi elegendo de um confim a outro do mundo, entre os mais bravos de Israel para faze-los soldados de sua escolta, a fim de guardar o leito do verdadeiro Salomão, ou seja o Santo Sepulcro, em cujo redor os pôs para estar alertas como fiéis sentinelas armados de espada e habilíssimos na arte da guerra.


Carta de S. Bernardo a Hugo de Payens



Carta de S. Bernardo de Claraval a Hugo, Conde de Champanha, que se fez soldado do Templo


(Texto extraído do site www.osmtj.org, Traduzido por Fr. +João Baptista Neto)



Se pela causa de Deus passastes de conde a soldado e de rico a pobre, felicito-te como é justo, e em ti glorifico a Deus, porque sei esta mudança se deve à destra do Altíssimo.Quanto ao mais, confesso-te que não aceito ainda com resignação que Deus me tenha privado de tua gozosa presença por seu misterioso desígnio, de modo que não possa te ver de vez em quando; porque se tivesse sido possível, jamais teria querido que te afastasses de mim.

Poderei acaso esquecer nossa primeira amizade e os benefícios que tão generosamente cumulastes sobre nosso monastério? Oxalá Deus, por cujo amor o fizestes, tampouco se esqueça de ti!De minha parte, nunca serei ingrato para contigo, guardarei no espírito a lembrança de tua esplêndida caridade e, se tiver oportunidade, o demonstrarei com as obras. Com que prazer tentaria fazê-las, tanto no material como no espiritual, se pudéssemos viver próximos! Mas, como não é assim, só me resta orar sempre pelo ausente, já que careço de tua presença.



Guardiões da Terra Santa

Círculo Iniciático de Hermes



Entre as atribuições das ordens de cavalaria, e mais em particular dos Templários, umas das mais conhecidas, mas nem por isso em geral bem compreendidas, é a de "guardiões da Terra Santa". Seguramente, se nos prendermos ao sentido mais exterior, encontraremos uma explicação imediata desse fato na conexão existente entre a origem dessas ordens e as Cruzadas, pois, tanto para os cristãos, quanto para os judeus, parece que a "Terra Santa" nada mais designa que a Palestina. No entanto, á questão torna-se mais complexa quando se sabe que diversas organizações orientais, cujo caráter iniciático não pode ser colocado em dúvida, como os Assacis e os Drusos, receberam também o título de "guardiões da Terra Santa". Aqui, de fato, não mais se trata da Palestina, mas é no entanto notável que essas organizações apresentem um grande número de traços comuns com as ordens de cavalaria ocidentais, com as quais algumas delas chegaram historicamente a estabelecer relações.



Cabe, assim, nos perguntarmos o que se deve entender, na realidade, por "Terra Santa", e ao que corresponde exatamente o papel de "guardiões", que parece ligado a um determinado gênero de iniciação, que se poderia denominar "cavaleiresco", desde que déssemos a esse termo uma extensão mais ampla do que se entende comumente, mas que as analogias existentes entre as diferentes formas bastam para legitimá-lo.



Já demonstramos em outras partes, em particular no estudo sobre O Rei do Mundo, que a expressão "Terra Santa" tem um certo número de sinônimos: "Terra Pura", "Terra dos Santos", "Terra dos Bem- aventurados", "Terra dos Viventes", "Terra da Imortalidade", e que essas designações equivalentes são encontradas nas tradições de todos os povos. Essencialmente, elas sempre se aplicam a um centro espiritual, cuja localização numa determinada região pode, segundo o caso, ser entendida literal ou simbolicamente, ou nos dois sentidos ao mesmo tempo. Toda "Terra Santa" é também designada por expressões como "Centro do Mundo" ou "Coração do Mundo", o que exige algumas explicações, pois essas designações uniformes, ainda que diversamente aplicadas, poderiam com facilidade provocar certas confusões.



Se, por exemplo, considerarmos a tradição hebraica, veremos que se fala, no Sepher Yetsirah, do "Santo Palácio" ou "Palácio Interior", que é o verdadeiro "Centro do Mundo", no sentido cosmogônico do termo. Veremos também que o "Santo Palácio" tem sua imagem no mundo humano através da residência, num certo lugar, da Shekinah, que é a "presença real" da Divindade. Para o povo de Israel, a residência da Shekinah era o Tabernáculo (Mishkan), que por essa razão era considerado como o "Coração do Mundo", pois consistia de fato no centro espiritual de sua própria tradição. Esse centro, aliás, não se encontrava de início num lugar fixo; quando se trata de um povo nômade, como era o caso, seu centro espiritual deve-se deslocar com ele, permanecendo contudo sempre o mesmo no decurso de tal deslocamento. "A residência da Shekinah, diz o Sr. Vulliaud, só foi fixada na época da construção do Templo, para o qual Davi tinha preparado ouro, prata e tudo o que era necessário para Salomão concluir a obra. O Tabernáculo da Santidade de IHVH, a residência da Shekinah, é o Santo dos Santos que constitui o coração do Templo, que é por sua vez o centro de Sion (Jerusalém), como a santa Sion é o centro da Terra de Israel, como a Terra de Israel é o “centro do mundo”. Pode-se notar que existe aí uma série de extensões dada de forma gradual à idéia de centro nas aplicações que são feitas sucessivamente, de modo que a denominação "Centro do Mundo" ou "Coração do Mundo" é finalmente estendida à Terra de Israel inteira, enquanto que esta é considerada como a "Terra Santa". E é preciso acrescentar que, sob o mesmo ponto de vista, ela recebe também, entre outras denominações, a de "Terra dos Viventes". Diz-se que a "Terra dos Viventes compreende sete terras", e o Sr.


É bom notar que as expressões aqui empregadas evocam a aproximação muitas vezes estabelecida entre a construção do Templo, considerada em sua significação ideal, e a “Grande Obra” dos hermetistas.Vulliaud observa que "essa Terra é Canaã, na qual havia sete povos", o que é exato no sentido literal, ainda que uma interpretação simbólica seja também possível.A expressão "Terra dos Viventes" é sinônima exata de "morada da imortalidade", que a liturgia católica aplica à morada celeste dos eleitos, representada, com efeito, pela Terra Prometida, visto que Israel, nela penetrando, devia ver o fim de suas tribulações. De um outro ponto de vista ainda, a Terra de Israel, enquanto centro espiritual, era uma imagem do Céu, pois, segundo a tradição judaica, "tudo o que fazem os israelitas sobre a terra é cumprido de acordo com os modelos do que se passa no mundo celeste.



O que se diz aqui dos israelitas vale também para todos os povos possuidores de uma tradição verdadeiramente ortodoxa. De fato, o povo de Israel não é o único que assimilou seu país ao "Coração do Mundo" e que o viu como imagem do Céu, duas idéias que no fundo são idênticas. O uso do mesmo simbolismo é encontrado em outros povos que possuíam também uma "Terra Santa", isto é, uma região em que estava estabelecido um centro espiritual, que tinha para eles um papel comparável ao do Templo de Jerusalém para os hebreus. A esse respeito, ocorre com a "Terra Santa" o mesmo que se passa com o Omphalos, que era sempre a imagem visível do "Centro do Mundo" para o povo que habitava a região em que estava situado.



O simbolismo em questão encontra-se em particular entre os antigos egípcios. De fato, segundo Plutarco, "os egípcios dão à sua terra o nome de Chémia, e a comparam ao coração". A explicação de Plutarco para isso é bastante estranha: "Esse país, de fato, é quente, úmido, contido nas partes meridionais da terra habitada, estendido para o sul, do mesmo modo que no corpo do homem o coração se estende à esquerda", pois "os egípcios consideram o Oriente como a face do mundo, o norte como estando à direita, e o sul à esquerda. Tais similaridades são muito superficiais, e a verdadeira razão deve ser inteiramente outra, pois a mesma comparação com o coração foi também aplicada a toda terra à qual se atribuía um caráter sa- grado e "central" no sentido espiritual, independentemente de sua situação geográfica. Além disso, no próprio relato de Plutarco, o coração representava tanto o Egito, quanto o Céu: "Os egípcios", diz ele, “representam o Céu, que não poderia envelhecer por ser eterno, por um coração colocado sobre um braseiro, cuja chama lhe mantém o ardor”. Desse modo, enquanto que o próprio coração é figurado por um vaso, aquele mesmo que as lendas da Idade Média ocidental designariam como o "Santo Graal", ele é por sua vez, simultaneamente, o hieróglifo do Egito é do Céu.



A conclusão que podemos extrair dessas considerações é que existem tantas "Terras Santas" particulares, quantas são as formas tradicionais regulares, pois elas representam os centros espirituais que correspondem respectivamente a essas diferentes formas. E se o mesmo simbolismo se aplica de modo uniforme a todas essas "Terras Santas", é porque os centros espirituais têm todos uma constituição análoga, muitas vezes até em detalhes muito precisos, pois são igualmente imagens de um mesmo centro único e supremo, o verdadeiro "Centro do Mundo", do qual recebem os atributos na medida em que participam de sua natureza por uma comunicação direta, na qual reside a ortodoxia tradicional, e que o representam na verdade, de um modo mais ou menos exterior, para tempos e lugares determinados. Em outros termos, existe uma "Terra Santa" por excelência, que é o protótipo de todas as outras e o centro espiritual ao qual todas as demais estão subordinadas; é a sede da tradição primordial da qual todas as tradições particulares derivaram para se adaptarem às condições definidas de um povo ou de uma época. Essa "Terra Santa" por excelência é o "país supremo”, segundo o sentido do termo sânscrito Paradêsha, do qual os caldeus fizeram Pardes e os ocidentais, Paraíso. É, de fato, o "Paraíso Terrestre", ponto de partida de toda tradição, que tem em seu centro a fonte única da qual partem os quatro rios que correm para os quatro pontos cardeais, e que é também a "morada da imortalidade", como é fácil notar se nos reportarmos aos primeiros capítulos do Gênesis.



Kêmi, na língua egípcia, significa “terra negra”, designação que tem ainda equivalentes entre outros povos; dessa palavra veio alquimia (sendo al o artigo em árabe), que designava originariamente a ciência hermética, isto é, a ciência sacerdotal do Egito.Na Índia, ao contrário, o sul é designado como o “lado da direita” (dakrishna); mas, apesar das aparências, isso vem a dar no mesmo, pois entender que se trata do lado direito de quem está olhando voltado para o Oriente, e é fácil imaginar o lado esquerdo do mundo como se estendendo à direita daquele que o contempla, e vice-versa, tal como ocorre com duas pessoas colocadas uma frente à outra. Podemos notar que esse símbolo, com a significação que lhe foi dada aqui, parece ser comparável ao da Fênix.



Não podemos voltar aqui a todas as questões referentes ao Centro Supremo e já tratados em outros momentos: sua conservação de modo mais ou menos oculto segundo os períodos, do começo ao fim do ciclo, isto é, desde o "Paraíso Terrestre" até a "Jerusalém Celeste", que representam as suas duas fases extremas; os múltiplos nomes sob os quais é designado, tais como Tula, Luz, Salém, Agartha; os diferentes símbolos que o representam, como a montanha, a caverna, a ilha e muitos outros, ainda, na maioria dos casos em relação imediata com o simbolismo do "Pólo" ou do "Eixo do Mundo". A essas representações poderíamos também acrescentar a cidade, a cidadela, o templo ou o palácio, conforme o aspecto particular pelo qual é considerado. Podemos ainda lembrar aqui o Templo de Salomão, que se relaciona diretamente com o nosso tema, a tríplice muralha, da qual falamos recentemente como representando a hierarquia iniciática de certos centros tradicionais, e também o misterioso labirinto que, sob uma forma mais complexa refere-se a uma concepção similar, com a diferença de que neste coloca-se em evidência, principalmente, a idéia de um "encaminhamento" na direção do centro oculto.



Devemos agora acrescentar que o simbolismo da "Terra Santa" tem um duplo sentido: quer esteja relacionado ao Centro Supremo ou a um Centro subordinado, representa não só o próprio centro, mas também, por uma associação muito natural, a tradição que dele emana ou que por ele é conservada, ou seja, no primeiro caso a tradição primordial e, no segundo, uma certa forma tradicional particular. Esse duplo sentido é encontrado também de um modo muito claro no simbolismo do "Santo Graal", que é ao mesmo tempo um vaso (grasale) e um livro (gradale ou graduale). Este último aspecto designa de modo evidente a tradição, enquanto que o outro diz respeito mais diretamente ao estado que corresponde à posse efetiva dessa tradição, ou seja, o "estado edênico" quando se trata da tradição primordial. Aquele que chegou a esse estado está, por isso mesmo, reintegrado ao Pardes, de tal modo que se pode dizer que sua morada encontra-se, desde então, no "Centro do Mundo".



Não é sem motivo que estabelecemos aqui uma aproximação entre os dois simbolismo, pois sua estreita similaridade mostra que, quando se fala da "cavalaria do Santo Graal" ou dos "guardiões da Terra Santa", o que se deve entender por essas duas expressões é exatamente a mesma coisa. Restanos explicar, na medida do possível, no que consiste propriamente a função desses "guardiões", representados de modo particular pelos Templários.




Essa fonte é idêntica à “fonte do ensinamento”, à qual tivemos anteriormente ocasião de fazer, aqui mesmo, diversas referências.É por isso que a “fonte do ensinamento” é ao mesmo tempo a “fonte da juventude” (fons juventis), pois quem dela bebe está liberado da condição temporal; ela está ainda situada ao pé da “Árvore da Vida” e suas águas se identificam evidentemente ao “elixir da longa vida” dos hermetistas (tendo aqui a idéia de “longevidade” a mesma significação que nas tradições orientais) ou à “bebida da imortalidade”, encontrada em todos os lugares sob diferentes nomes.O labirinto cretense era o palácio de Minos, nome idêntico a Manu, que também designa o legislador primordial. Por outro lado, pode-se compreender, pelo que dissemos aqui, a razão pelo qual o percurso do labirinto traçado sobre o pavimento de certas igrejas da Idade Média era visto como substituto da peregrinação à Terra Santa por todos aqueles que não podiam realizá-la. É preciso lembrar que a peregrinação é uma das imagens da iniciação, de modo que a “peregrinação à Terra Santa”é, no sentido esotérico, a mesma coisa que a “procura da Palavra Perdida” ou a “demanda do Santo Graal”.Analogicamente, do ponto de vista cosmogônico, o “Centro do Mundo” é o ponto original em que é proferido o Verbo Criador, assim como o próprio Verbo.


É importante recordar, a esse respeito, que em todas as tradições os lugares simbolizam essencialmente estados. Por outro lado, poderemos notar que existe um parentesco evidente entre o simbolismo do vaso ou do cálice e o da fonte que examinávamos mais acima; vimos também que, entre os egípcios, o vaso era o hieróglifo do coração, centro vital do ser. Relembremos, enfim, o que já dissemos em outras ocasiões a respeito do vinho como substituto do soma védico e como símbolo da doutrina oculta. Em tudo isso, de uma forma ou de outra, trata-se sempre de uma “bebida da imortalidade” e da restauração do “estado primordial”.



Para compreender bem do que se trata, é preciso distinguir entre os detentores da tradição, cuja função é conservá-la e transmiti-la, e os que recebem apenas em certo grau uma comunicação e, poderíamos dizer, uma participação.Os primeiros, depositários e distribuidores da doutrina, ligam-se à fonte, que é exatamente o próprio centro; dali, a doutrina se comunica e se reparte hierarquicamente aos diversos graus iniciáticos, segundo as correntes representadas pelos diversos rios do Pardes, ou, se quisermos retomar a representação que estudamos recentemente, pelos canais que, indo do interior para o exterior, reúnem entre si as muralhas sucessivas, correspondentes a esses diferentes graus.



Nem todos que participam da tradição alcançam o mesmo grau e preenchem as mesmas funções. Poderíamos mesmo fazer uma distinção entre as duas coisas, que, embora geralmente se correspondam de um certo modo, não são contudo solidárias de forma estrita, pois pode ocorrer que um homem seja intelectualmente qualificado para atingir os graus mais elevados, mas não seja apto só por isso para preencher todas as funções na organização iniciática. Aqui, são apenas as funções que devemos considerar; e, desse ponto de vista, diremos que os "guardiões" se mantêm no limite do centro espiritual, tomado em seu sentido mais amplo, ou no espaço da terceira muralha, que separa o centro do "mundo exterior" e, ao mesmo tempo, o coloca em contato com este. Por conseguinte, os "guardiões" têm uma dupla função: de um lado, são exatamente os defensores da "Terra Santa", na medida em que impedem o acesso daqueles que não possuem as qualificações requeridas para nela penetrar, e constituem-se no que denominamos sua "cobertura exterior", ou seja, ocultam-na dos olhares profanos; por outro lado, asseguram também certas relações regulares com o exterior, tal como explicaremos a seguir.



É evidente que o papel de defensor, para falar na linguagem da tradição hindu é uma função dos chátrias, e, na verdade, toda iniciação "cavaleiresca" está essencialmente adaptada à natureza própria dos homens que pertencem à casta guerreira, ou seja, dos chátrias. Vêm daí as características especiais dessa iniciação, o simbolismo particular que adota e, principalmente, a intervenção de um elemento afetivo, designado explicitamente pelo termo "Amor". Já nos detivemos o suficiente neste assunto para não precisar- mos insistir sobre ele19. Existe porém, no caso dos Templários, mais uma coisa para considerar: ainda que sua iniciação tenha sido essencialmente "cavaleiresca", tal como convinha à sua natureza e função, eles tinham um duplo caráter, ao mesmo tempo militar e religioso. E devia ser assim mesmo, pois eles estavam, como temos muitas razões para acreditar, entre os "guardiões" do Centro Supremo, onde a autoridade espiritual e o poder temporal estão reunidos em seu princípio comum, comunicando a marca dessa reunião a tudo o que lhe está diretamente ligado.



No mundo ocidental, em que o espiritual assume a forma especificamente religiosa, os verdadeiros "guardiões da Terra Santa", na medida em que tiveram uma existência de certo modo "oficial", deviam ser cavaleiros, mas cavaleiros que, ao mesmo tempo, seriam monges. E, de fato, os Templários foram exatamente isso.



Essas considerações nos levam a falar diretamente do segundo papel dos "guardiões" do Centro Supremo, papel que consiste, como dizíamos há pouco, em assegurar certas relações exteriores e, principalmente, podemos acrescentar, em manter a ligação entre a tradição primordial e as tradições secundárias e derivadas. Para que assim seja, é preciso haver, para cada forma tradicional, uma ou várias organizações constituídas dessa mesma forma, segundo todas as evidências, mas compostas de homens conscientes do que está além de todas as formas, ou seja, da doutrina única que é a fonte de todas as outras, em suma, da tradição primordial.



No mundo da tradição judaico-cristã, uma tal organização devia naturalmente tomar por símbolo o Templo de Salomão; tendo este deixado de existir materialmente desde há muito tempo, só poderia ter então uma significação ideal, como imagem do Centro Supremo, tal como o é todo centro espiritual subordinado. A própria etimologia do nome de Jerusalém indica de modo muito claro que ela é uma imagem visível da misteriosa Salém de Melquisedec. Se foi esse o caráter dos Templários, eles deviam, para cumprir o papel que lhes estava atribuído e que se referia a uma determinada tradição, a do Ocidente, permanecer ligados exteriormente à forma dessa tradição. Mas, ao mesmo tempo, a consciência interior da verdadeira unidade doutrinária devia torná-los capazes de se comunicarem com os representantes de outras tradições20: é o que explica suas relações com certas organizações orientais, e, sobretudo, como é natural, com aquelas que em outras partes desempenhavam um papel similar ao seu.





Por outro lado, pode-se compreender, nessas condições, que a destruição da ordem do Templo foi a causa da ruptura das relações regulares do Ocidente com o "Centro do Mundo", se bem que remonte ao século XIV o desvio que devia de forma inevitável resultar nessa ruptura, que foi acentuando-se gradualmente até a nossa época.



Isso não quer dizer, contudo, que toda conexão tenha-se rompido de uma só vez. Durante muito tempo as relações puderam, em certa medida, ser mantidas, só que de uma forma oculta, por intermédio de organizações como a Fede Santa ou os "Fiéis de Amor", como a "Massenie du SaintGraal" e, sem dúvida, muitas outras ainda, todas herdeiras do espírito da ordem do Templo, e na maior parte ligada a ela por uma filiação mais ou menos direta. Aqueles que conservaram esse espírito vivo, e que inspiraram essas organizações sem jamais se constituírem em qualquer agrupamento definido, foram denominados Rosacruzes, nome essencialmente simbólico. Mas chegou o dia em que os próprios Rosacruzes tiveram de deixar o Ocidente, pois as condições se tornaram tais que não puderam mais exercer sua ação e, diz-se, retiraram-se então para a Ásia, sendo reabsorvidos de algum modo pelo Centro Supremo, do qual eram como que uma emanação.



Para o mundo ocidental, não há mais "Terra Santa" para guardar, pois, desde então, perdeu-se o caminho que a ela conduzia. Por quanto tempo perdurará ainda essa situação? É possível esperar que a comunicação possa ser restabelecida mais cedo ou mais tarde? Essa é uma questão que não nos compete responder; além disso, não queremos arriscar qualquer predição. A solução só depende do próprio Ocidente, pois é apenas retornando às condições normais e reencontrando o espírito de sua própria tradição, se é que tal possibilidade ainda lhe resta, que poderá ver abrir-se de novo o caminho que leva ao "Centro do Mundo".









(por René Guénon em “Símbolos da Ciência Sagrada”, Editora Pensamento, Brasil tradução: J. Constantino Kairalla Riemma edição C:.I:.H:.: Fr. Goya)



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Neste Apostolado APOLOGÉTICO (de defesa da fé, conforme 1 Ped.3,15) promovemos a “EVANGELIZAÇÃO ANÔNIMA", pois neste serviço somos apenas o Jumentinho que leva Jesus e sua verdade aos Povos. Portanto toda honra e Glória é para Ele.Cristo disse-nos:Eu sou o caminho, a verdade e a vida e “ NINGUEM” vem ao Pai senão por mim" (João14, 6).Defendemos as verdade da fé contra os erros que, de fato, são sempre contra Deus.Cristo não tinha opiniões, tinha a verdade, a qual confiou a sua Igreja, ( Coluna e sustentáculo da verdade – Conf. I Tim 3,15) que deve zelar por ela até que Ele volte(1Tim 6,14).Deus é amor, e quem ama corrige, e a verdade é um exercício da caridade. Este Deus adocicado, meloso, ingênuo, e sentimentalóide, é invenção dos homens tementes da verdade, não é o Deus revelado por seu filho: Jesus Cristo.Por fim: “Não se opor ao erro é aprová-lo, não defender a verdade é nega-la” - ( Sto. Tomás de Aquino).Este apostolado tem interesse especial em Teologia, Política e Economia. A Economia e a Política são filhas da Filosofia que por sua vez é filha da Teologia que é a mãe de todas as ciências. “Não a nós, Senhor, não a nós, mas ao vosso nome dai glória...” (Salmo 115,1)

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